Aos nossos filhos

Não são super-heróis e quase nunca quiseram ser. Chegou o dia que sob sua tutela, haverá mais um. E ninguém tá preparado pra cuidar, obrigatoriamente, diariamente, incansavelmente de outrém. Aprende-se.
Alguém disse que esse laço deve existir, deve ser cultivado e ultrapassará a obrigação. Não disseram que esse ofício é passível de muitos erros tal como qualquer relação humano-humano.
A falta de abraço, a falta de conversa. A não-presença(que não seria bem uma ausência, mas a presença de corpo). A casa que pode não ser abrigo. É tanta responsabilidade, impossível seria obter êxito e excelência. Os dias também são duros pra mim, a rotina também é dura. Meu coração também se machuca, porque a vida é dura.
O laço se rompe um dia. Quando se solta, ficam os rastros. Porque também vamos ter o coração partido, as mãos calejadas, também vamos magoar e pedir perdão. Porque somos assim

Como eles.

quando acordar, bom dia

Um dia eu acordei com o sol do Rio de Janeiro raiando sobre mim, o calor incômodo e o céu mais azul que as águas daquele mar que era cenário dos nossos encontros. Hoje não foi possível abstrair onde nossas vidas nos instalaram. Há pouco menos de dois anos tudo mudou. Não éramos mais adolescentes(minha pouca idade ainda fazia de mim uma, mas vamos pular essa parte), você seguiu uma vida que sempre fez parte de você, mas agora tinham outros personagens. Eu segui uma coisa meio louca que, talvez, seja uma vida. E eu te culpo sim! Culpo por nunca mais encontrar alguém que me faça bem de verdade, e por me tornar uma caixa blindada com um coração dentro.
Voltando à manhã de hoje: tudo que eu queria era esquecer os últimos dois anos e te beijar. E fazer como se voltássemos a ter um fogo dentro do coração que nos tornava um só. Hoje, sem você, a minha vida é só uma coisa que eu tento tornar leve, uma coisa qualquer. A minha vida fica incompleta(e justo hoje que eu tô há dois quilômetros de você, não mais trezentos). O dia está lindo demais pra eu não tentar me sentir feliz, completa e especial. Isso só é possível quando estou nos seus braços. Abre a porta que eu cheguei. Eu sei que dentro dessa porta existirão partes suas que não são minhas. Talvez seus gostos tenham mudado, talvez sua barba tenha crescido e seu cabelo caído. Talvez você não vista mais uma bermuda e um chinelo pra ficar dentro de casa ouvindo umas músicas e rindo dos amigos. E não duvido que no lugar especial da sua coleção de carrinhos tenham carrinhos do seu filho, bonecas da sua filha. Mas meu coração tá gritando aqui na porta, quer ter você mais um pouquinho. "Bom dia, que saudade".